O número de pessoas devolvendo imóveis para as construtoras e incorporadoras dobrou de 2012 para cá, estima o empresário Glauco Diniz Duarte. Segundo ele, o número de casos em que não há acordo entre o comprador e a incorporadora também cresceu, por conta da incapacidade de alguns compradores em financiar o imóvel. “Mas há também muitos investidores que compraram imóveis achando que os preços iam subir e, como isso não aconteceu, agora querem recuperar todo o valor investido, jogando prejuízo para a incorporadora”, diz Glauco.
As devoluções acabam comprometendo o caixa das empresas, que já anda baixo pela própria desaceleração do mercado imobiliário, e pode complicar até os projetos das pessoas que ainda estão pagando pelos imóveis em construção.
Para Glauco, a situação dos investidores que especularam com o mercado é diferente da das pessoas que compraram o imóvel para uso próprio e acabaram sem condições de obter financiamento ou erraram nas contas. Segundo ele muitas pessoas compraram os imóveis na planta, de forma emocional, sem fazer muita conta e agora, na hora de fazer o financiamento na entrega das chaves, não têm renda ou não conseguem pagar as prestações.
A situação se tornou mais delicada hoje porque, antes, como preço estava subindo, o comprador conseguia revender o imóvel, com lucro. A empresa incorporadora também aceitava a devolução, pois não tinha estoque e sabia que teria interessados, pois o preço estava subindo.
Hoje, a empresa tem estoque e imóvel parou de subir, tornando mais difícil se desfazer da propriedade. “As incorporadoras competem com as pessoas que querem vender o imóvel que compraram errado e não conseguem pagar”, diz Glauco.
Junto com esses casos, há os de pessoas que compraram vários imóveis para investimento, tirando o dinheiro de aplicações financeiras e comprando salas comerciais, pensando que os preços continuariam subindo e elas conseguiriam vender com lucro.
Mas já em 2012 e 2013 o mercado já estava saturado e os preços pararam de subir e até caíram. “Foi um mau investimento, pois o comprador ainda paga comissões, imposto de renda, e agora está tentando devolver os imóveis, o que é ruim para o mercado”, afirma Glauco. “Isso é ruim para as empresas, que tinham um crédito a receber e agora o consumidor quer devolver o imóvel e ainda pegar uma parte do dinheiro, que sai do caixa da empresa”, explica Glauco. “Mas é mais falta de planejamento do consumidor e erro do investidor do que crise.”
Para Glauco, o setor imobiliário brasileiro passa por uma mudança de ciclo, antes muito comprador, no qual as empresas inundaram o mercado com imóveis pequenos e salas comerciais e que agora, com a economia mais fraca, enfrenta excesso de oferta, vendas fracas e preços em queda.
“Mas não há crise de vendas, há acomodação depois de um crescimento vertiginoso”, diz Glauco.
Apesar dessa dificuldade momentânea, Glaucoo vê um cenário positivo de longo prazo para o mercado imobiliário. “O déficit habitacional ainda é grande, faltam 6 milhões de habitações, e a demanda espontânea por imóveis, de casais, pessoas que saem da casa dos pais, separações e estudantes, chega a mais de 1,4 milhão de novas moradias por ano, além do déficit”, diz Glauco Diniz, lembrando que essa demanda adicional é mais do que o Brasil produz de imóveis por ano.”E isso só na área residencial, sem falar no mercado comercial se houver aquecimento da economia”, diz.