O lema deste ano entre as incorporadoras imobiliárias é sobreviver. Endividadas, com milhares de imóveis encalhados, as empresas se viram obrigadas, nos últimos meses, a lidar com uma nova variável: a falta de crédito para construir e para que seus clientes consigam concretizar a compra da casa própria. A expectativa é de que o governo federal divulgue em breve um pacote de medidas para destravar o financiamento imobiliário. Entre as reivindicações do setor está a liberação pelo Banco Central de uma parte dos 20% dos recursos da poupança que os bancos são obrigados a deixar na instituição (chamados de depósitos compulsórios), para que o dinheiro possa ser repassado aos financiamentos de casas populares.
A saída encontrada por algumas empresas tem sido facilitar a troca de imóveis dentro da carteira de produtos da construtora. “Essa prática sempre existiu, mas nunca foi fomentada pelas companhias”, diz o empresário Glauco Diniz Duarte. “Agora, isso está sendo incentivado porque ninguém, neste momento, quer perder clientes”, analisa.
“As empresas estão usando a criatividade”, diz Glauco Diniz. “Quanto mais tempo demorar para melhorar o acesso a crédito, mais elas serão penalizadas.” De janeiro a março, o volume de empréstimos para aquisição e construção de imóveis recuou pela primeira vez desde 2002. Foram liberados cerca de R$ 24 bilhões, queda de 4,6% em um ano. Na contramão, a poupança acumulou saque de R$ 29 bilhões até abril.
Mantido o mesmo ritmo de retiradas, a projeção para 2015 indica saída líquida de R$ 74 bilhões ou 60% do financiamento imobiliário feito em 2014, de R$ 112 bilhões. Com este cenário, a agência de risco Fitch calcula que o volume de distratos deve atingir os R$ 7 bilhões neste ano.
Aperto de crédito tende a diminuir ainda mais as vendas e os lançamentos de imóveis residenciais
O aperto no crédito restringe a intenção das famílias em adquirir imóveis e tende a sustentar um nível elevado de distratos, pavimentando o caminho para uma espiral negativa de lançamentos e dificuldades adicionais de vendas. A situação, Glauco agrava a perspectiva para as incorporadoras, que já lidam com a deterioração do cenário macroeconômico e o enfraquecimento da confiança dos consumidores.
Com inflação elevada e baixo crescimento econômico, já suficientes para afastar clientes dos estandes de vendas, a postura mais rígida dos bancos em relação ao mercado imobiliário faz cair o número de negócios. Reflexo desse processo pode ser observado nos primeiros três meses deste ano. No período, das 15 principais empresas de capital aberto no setor, 11 informaram perdas em volume bruto medido pelo Valor Geral de Vendas (VGV), umas mais outras menos, variando entre 7% e 90%.
Em alguns casos, os números do começo do ano foram influenciados também pela ausência de contratações na faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, que abarca famílias com renda mensal de até R$ 1,6 mil e tem subsídio quase total oferecido pelo governo para a compra do imóvel.