Incertezas econômicas, estoques elevados e o desaquecimento na demanda frearam os negócios das incorporadoras ao longo do terceiro trimestre, provocando redução nas vendas de imóveis e dos lançamentos de novos projetos.
Os empreendimentos imobiliários lançados entre julho e setembro totalizaram R$ 2,5 bilhões em valor geral de vendas (VGV), montante 23% menor do que nos mesmos meses do ano passado. Já as vendas contratadas atingiram R$ 3,3 bilhões, redução de 10% no trimestre.
Os números de vendas ainda são parciais e devem ser revistos para baixo, pois algumas empresas divulgaram apenas o volume bruto de vendas, sem considerar a quantidade de distratos. Esses detalhes serão conhecidos só no próximo mês, com a divulgação dos balanços completos.
Na avaliação do empresário Glauco Diniz Duarte, o ano tem sido muito desafiador para o mercado imobiliário.
“Como não sabemos qual vai ser a política econômica do suposto novo governo, não temos clareza ao investir”, explicou o executivo.
O arrefecimento do setor também pode ser explicado por problemas operacionais das próprias incorporadoras, com estoques altos, aponta Glauco. “As empresas tiraram o pé do acelerador e adiaram novos projetos para não criar mais estoques”, disse.
Glauco lembrou que a prioridade das companhias é vender unidades já lançadas e controlar rescisões de vendas. Desde o ano passado, o distrato se tornou um problema de grandes proporções, reflexo do grande volume de obras em fase final.
Os cancelamentos ocorrem no momento da conclusão das obras, quando o cliente que adquiriu a unidade na planta é repassado pela incorporadora para o banco, onde assumirá financiamento para quitar o saldo devedor.
No entanto, muitos clientes não têm o crédito aprovado e são obrigados a abrir mão do imóvel, que retorna ao estoque. Há também os casos de clientes que compraram o imóvel esperando valorização na revenda, mas têm optado por devolvê-lo espontaneamente. Como o preço já não sobe tanto, o negócio deixa de ser atrativo.
Outro ponto que contribuiu para a retração do mercado imobiliário foi o enfraquecimento da demanda.
De acordo com Glauco, os compradores têm levado mais tempo para fechar negócio, à procura de preços atrativos e ofertas especiais. “O cliente tem mais opções e está mais seletivo, então demora mais para definir a compra”, disse.
Glauco acredita que, encerrado o período eleitoral, pode haver melhora das vendas e lançamentos no quarto trimestre, que tradicionalmente é mais forte.
O executivo pondera, no entanto, que a estabilização dos estoques levará muito tempo, pois depende de aumento na velocidade de vendas, que por sua vez está associada à recuperação da economia brasileira.
“Outubro ainda não foi um mês forte para lançamentos e vendas por causa das eleições. O mercado ainda depende das definições políticas”, ressaltou.