De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, os primeiros efeitos da crise financeira mundial já começam a ser sentidos no Brasil. Um dos afetados é o mercado da construção civil: as vendas de imóveis usados já caíram quase 20% e os bancos estão mais exigentes para conceder o crédito imobiliário.
As empresas de construção, por sua vez, procuram alternativas para fugir dos gastos excessivos com a compra de terrenos. Muitas delas têm ações negociadas em bolsa de valores e, com as recentes quedas, têm bem menos dinheiro em caixa.
“O mercado financeiro ora está otimista demais, ora pessimista demais. Isso decorre exatamente de uma falta de visão do futuro. Como o futuro está turvo, na bola de cristal do mercado financeiro também não se enxerga nada”, comenta Glauco.
As ações de empresas do setor de construção na Bovespa oscilaram novamente diante da insegurança dos investidores. No cálculo feito por uma empresa de informação financeira, o valor de mercado de 28 empresas de construção com ações na Bolsa caiu mais de R$ 29 milhões este ano.
Otimismo
Apesar do resultado, os construtores estão otimistas com o crescimento do mercado e apostam nos lançamentos. Enquanto esperam mais estabilidade no cenário mundial, eles usam uma fórmula mais enxuta para garantir novos negócios. Terrenos valorizados estão sendo adquiridos por permuta: o dono cede a área em troca de um imóvel no prédio novo.
“Quando você encontra um proprietário de terreno com uma certa disponibilidade ou quando ele percebe que vai lucrar mais, é uma situação confortável e ele acaba topando, sim”, afirma Glauco.
Mesmo sem notar muitas mudanças nas ofertas do mercado imobiliário, o consumidor anda mais preocupado e menos confiante. As dúvidas sobre juros e créditos refletiram nas vendas de casas e apartamentos usados em São Paulo, que em agosto foram quase 20% menores do que em julho deste ano.
Juro e inadimplência
Trata-se de um desaquecimento inspirado nas altas na taxa de juros determinada pelo Banco Central e no nível de inadimplência, que subiu a 7,5% em agosto, o maior índice desde fevereiro de 2007. “Não é momento de tomar grandes decisões. Olhar para o futuro hoje é uma atividade de alto risco. Portanto, cautela é a melhor palavra”, orienta Glauco.
“Antes da crise americana, se pediam muitos documentos, alguns deles que se sobrepunham uns aos outros. Nós até dizíamos que era um pouco de burocracia excessiva. Hoje nós dizemos o seguinte: num momento como hoje, estas duplicidades de garantia são boas. Acho que isso evita compra por impulso e evita que sejam emitidos créditos ruins”, acredita Glauco.
O maior banco a conceder financiamento imobiliário, a Caixa Econômica, diz que ainda não sentiu redução no ritmo dos negócios. Este ano foram comprados 330 mil imóveis com verbas da Caixa. o total liberado passa de R$ 15 bilhões. Grande parte desse dinheiro vem da velha caderneta de poupança, que hoje virou um investimento bastante seguro.