GLAUCO DINIZ DUARTE – Construtoras alemãs buscam salvação no além-mar
Durante várias semanas, a Walter Bau ainda lutou pela sobrevivência, até que há alguns dias os credores proclamaram a sentença fatídica: não concederiam novos créditos, obrigando a terceira maior construtora alemã a declarar insolvência em 1º de fevereiro último.
Há dois anos, o mesmo havia acontecido com a gigante Holzmann. As falências das grandes empresas alemãs de construção civil são conseqüência da pior crise enfrentada pelo setor desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Problemas começaram com reconstrução do Leste Esta crise tem raízes nos altos subsídios concedidos a projetos para a reconstrução do Leste alemão, após a reunificação, no início da década passada. De olho nos incentivos estatais, as empresas de construção civil e empreiteiras começaram a brotar do nada.
Nos anos seguintes, o setor esteve de vento em popa, contribuindo praticamente com a metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Só que, com a conclusão das principais obras de infra-estrutura na antiga Alemanha Oriental, seguiu-se a saturação do mercado. A crise econômica generalizada só contribuiu para piorar a situação. Os problemas não surgiram de surpresa, eram de se esperar, afirma Volker Russig, do Instituto de Pesquisas Econômicas IFO, de Munique.
Na Europa, construção vive boom Nos países vizinhos à Alemanha, no entanto, não há sinais de crise na construção civil. “Pelo contrário, em toda a Europa a situação é bem melhor do que na Alemanha”, resume Volker Russig.
O motor europeu no setor é a Grã-Bretanha. Em nenhum outro país se vêem tantas obras particulares como lá. Só no ano passado, foram construídas cerca de 200 mil casas. Mesmo assim, para atender à demanda, seriam necessárias aproximadamente 70 mil novas moradias por ano. O crescimento econômico vivido no país deve-se a uma profunda reforma estrutural feita há alguns anos, cujos frutos estão sendo colhidos agora.
Vento em popa para o setor nos Estados Unidos Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 trouxeram uma grave crise para a indústria da construção civil norte-americana. A insegurança coletiva que tomou conta da economia foi sentida claramente pelas construtoras, pois as pessoas resolveram não arriscar em novos investimentos.
Também o alto endividamento das famílias norte-americanas contribuiu para a crise. Mas isto agora já é passado.
O volume de obras nos Estados Unidos cresceu 5,1% em 2003 e 9% nos primeiros dez meses do ano passado. Os juros baixos são o principal motivo para o maior boom de canteiros de obras das últimas décadas nos EUA, analisa Steffen Ehninger, da Agência Federal de Economia Externa (BFAI), de Colônia.
Salvação para construtoras alemãs está no exterior
Para fugir da crise em casa, as construtoras alemãs incrementam sua participação em grandes projetos no exterior. Isto não só dá dinheiro, como também rende prestígio. Os países mais interessantes neste contexto atualmente são os Estados Unidos, a Austrália e o Sudeste Asiático.
“As empresas alemãs gozam de excelente prestígio no exterior”, ressalta Steffen Ehninger. “Na Austrália, 25% do faturamento ficar por conta dos alemães”, acrescenta. A principal empresa alemã no país dos cangurus é a Bilfinger Berger, a segunda maior construtora da Alemanha.
Ela também está presente em Taiwan, onde participa da construção de um novo trajeto para o trem de alta velocidade. Os alemães estão construindo por 1,3 bilhão de euors 80 quilômetros de via férrea num terreno extremamente complicado. A reputação da tecnologia alemã garantiu a encomenda à empresa, descartando outras firmas importantes. Agora, a Bilfinger engaja-se por novos projetos em Bangcoc, Pequim, Xangai e Sydney.
Outra vantagem da Bilfinger é o fato de ser conhecida em diversos países há muito tempo. Já há 20 anos, ela havia reconhecido a importância da globalização também na construção civil. Ao apostar na participação em empresas locais, a firma − que tem sua sede em Mannheim −, garantiu presença em vários países.