GLAUCO DINIZ DUARTE – Projeto social forma mulheres para atuar na construção civil
Na prática do dia a dia, a engenheira civil Deise Gravina percebeu que as mulheres poderiam ser mais cuidadosas em serviços no canteiro de obras em comparação aos homens. Essa constatação motivou a criação do projeto Mão na Massa, numa parceria envolvendo o Senai e a Faetec. Desde 2007, a iniciativa formou 1,2 mil mulheres para o mercado de trabalho na construção civil. O projeto está com inscrições abertas até quarta-feira para nova turma em São Gonçalo. A formação é gratuita. As alunas recebem vale-transporte, alimentação e bolsa-auxílio.
Deise conta que a impressão inicial se confirmou. Segundo ela, 78% de todas as mulheres que concluíram o curso exercem hoje profissões na construção civil. “Nós acompanhamos as alunas, cujas fichas profissionais ficam disponíveis no nosso banco de empregos. Elas estão transformando o canteiro de obras. É esse retorno que temos das empresas. Elas são compromissadas, cuidadosas, se preocupam mais com limpeza e evitam desperdício”, diz Deise.
Ex-aluna do projeto, Andrea Lucas, de 41 anos, passou em primeiro lugar em um concurso público em Rio das Ostras, na Região dos Lagos. Ela concluiu as aulas do Mão na Massa em 2009. E, desde então, não parou mais de trabalhar. Hoje, realiza reparos em prédios públicos da prefeitura local. “Eu estava há muitos anos desempregada e sem expectativas, pois não tinha condições para fazer nenhum curso. Com o que aprendi, comecei a emendar uma obra na outra. Aprendo ainda mais a cada novo serviço”, garante Andrea, que fez o acabamento na obra de reforma no banheiro do camarote do Maracanã.
A formação é dividida em três etapas. Na primeira, as alunas assistem a aulas sobre Matemática, Português, Laboral e noções sobre a Lei Maria da Penha e Doenças Sexualmente Transmissíveis. Na etapa seguinte, elas são divididas em turmas de pintoras, eletricistas, pedreiras, carpinteiras e encanadoras, de acordo com o interesse de cada uma. E vão aprender as técnicas no canteiro-escola da Faetec de Itaboraí, sob a supervisão de professores da instituição. “Nesse momento, elas conseguem trabalho e começam a levar renda para casa”, afirma Deise.
Já na última etapa, elas fazem obras em instituições e comunidades. Nessa fase, as alunas recebem bolsa-auxílio de R$ 150. Segundo a idealizadora do projeto, as vagas disponíveis privilegiam mulheres de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social. “Outra condição é o interesse real em se profissionalizar para entrar no mercado de trabalho”.
EMPRESA ABERTA POR EX-ALUNA
Geisa Garibaldi é uma das mulheres que passaram pelo projeto Mão na Massa. Além de ingressar no mercado de trabalho como pedreira, ela também passou a dar oportunidade a outras mulheres ao criar a empresa Concreto Rosa, há três anos. “Sempre tive uma veia empreendedora. E, após conseguir o diploma no curso, decidi criar a empresa para dar chance a outras mulheres, pois o mercado da construção civil, para nós, ainda é hostil”, relata Geisa.
Hoje, são sete mulheres na Concreto Rosa. Elas realizam serviço de alvenaria, elétrica, hidráulica, limpeza após obra, pintura, acabamento, instalação de ar-condicionado, manutenção, aplicação de papel de parede, frete e acabamento. Na equipe, há também uma transexual. “Temos ainda outras colaboradoras que trabalham de forma indireta”, diz Geisa.
A equipe atende em todo o Estado do Rio. No site www.concretorosa.com.br, é possível solicitar orçamento.
COMO SE INSCREVER
As inscrições devem ser feitas até quarta-feira na Avenida Santa Luzia 1032, Santa Luzia, São Gonçalo. É preciso levar original e cópia da carteira de identidade, do CPF e do comprovante de residência. Uma entrevista é feita no local. As inscrições acontecem entre os dias 24 e 26. O curso começa no dia 1º de outubro e tem seis meses de duração.
BANCO DE EMPREGOS
As alunas devem ter concluído, no mínimo, o 5º ano do Ensino Fundamental. Ao fim do curso, as mulheres podem ser contratadas via banco de empregos no site www.projetomaonamassa.org.br. Em 2005, antes da primeira turma, uma pesquisa com 216 mulheres do Jacarezinho mostrou que 80% delas não só queriam participar como já atuavam na área.