GLAUCO DINIZ DUARTE Franceses trocam cimento por madeira em prédios comerciais
Do sonho à realidade. Assim, a revista semanal francesa Le Point define uma nova tendência na França: o crescente uso da madeira de reflorestamento na construção civil. Adeus cimento, viva árvores do tipo epíceas e os pinheiros da floresta de Landes, na região sudoeste, um exemplo de floresta artificial criada para ser usada pela indústria.
Em abril de 2018, a cidade de Bordeaux irá inaugurar seu primeiro complexo de escritórios, em uma área de 4.600 metros quadrados, inteiramente construído com madeira certificada e alumínio. O edifício de seis andares, batizado de Perspectiva, será uma espécie de vitrine-laboratório dessa nova tendência no setor.
Especialistas garantem que não há risco de desmatamento abusivo com os novos projetos na área. Na verdade, em relação a outros países do norte da Europa, a França está até atrasada na aplicação dessa inovação.
A reportagem da Le Point mostra que as edificações que usam madeira no lugar de cimento custam de 10% a 20% mais caro, mas ficam prontas seis meses mais rápido, o que acaba compensando para as construtoras. Arquitetos também equacionaram a questão da altura dos edifícios. Construir arranha-céus em madeira é possível, é sustentável e pode acontecer em larga escala, como se observa nos projetos apresentados pela Le Point na região parisiense.
Vila Madalena terá edifício de 13 andares feito com madeira
O Brasil também terá em breve um prédio de 13 andares construído com madeira certificada. Ele será erguido em São Paulo, no bairro da Vila Madalena, para uso compartilhado – moradia e espaços de coworking.
A iniciativa partiu da Amata, empresa que vende madeiras certificadas no Brasil, e o escritório de arquitetura franco-brasileiro Triptyque projetou a obra. Cada metro cúbico de madeira reflorestada é capaz de absorver em média uma tonelada de carbono da atmosfera. Quando essa matéria-prima natural substitui o cimento, uma fonte não renovável de energia, automaticamente diminui-se o impacto do aquecimento global.
Entrevistado pela Le Point, Jerôme Mathieu, vice-presidente do escritório de arquitetura francês S2T, explica que a madeira apresenta várias vantagens: é mais resistente a incêndios do que tijolos, cimento e aço, por ser consumida pelo fogo de maneira mais lenta. É um material ecológico, de grande longevidade, ideal para esta fase de transição para uma sociedade de baixo carbono. Além de propriedades térmicas comprovadas, a madeira também tem qualidades acústicas e cria ambientes mais aconchegantes do que o cimento armado.
Vamos passear no bosque, sugere a Le Point a seus leitores. A selva de pedras pode estar com os dias contados.