Glauco Diniz Duarte Tbic – Energia fotovoltaica săo carlos
A Unicamp inaugura nesta quinta-feira, 11, a primeira usina fotovoltaica no campus de Barão Geraldo, em cerimônia no Ginásio Multidisciplinar, que receberá o maior conjunto de painéis solares – os demais estarão em mais cinco prédios da instituição. A geração de energia solar é um subprojeto do Campus Sustentável, programa em parceria com a CPFL Energia e com apoio da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e da empresa BYD, que doou parte dos painéis (15% do total instalado). Além de proporcionar economia no consumo de eletricidade, os painéis solares passarão a integrar o “laboratório vivo”, onde são desenvolvidas outras ações visando à eficiência energética e, no caso da usina, envolvendo pesquisa, treinamento e formação de técnicos e especialistas em geração de energia fotovoltaica.
“As plantas fotovoltaicas instaladas no campus estão em diferentes telhados, com diferentes orientações e inclinações, diferentes tipos de painéis e diferentes tipos de inversores, o que vai trazer uma riqueza imensa de dados para a nossa pesquisa sobre o tema”, explica Luiz Carlos Pereira da Silva, professor da FEEC e coordenador do programa Campus Sustentável. “Também colocamos sistemas em solo, para que professores e estudantes tenham contato direto com essas tecnologias em aulas práticas. Há ainda uma planta educacional no Museu Exploratório de Ciências, que impactará as crianças que visitam aquele espaço e poderão receber informações básicas sobre geração de energia solar fotovoltaica.”
No campus principal da Unicamp serão instalados mais de 530 kWp (quilowatt-pico) de geração fotovoltaica, assim distribuídos: 334 kWp no Ginásio Multidisciplinar; 94 kWp na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC); 38 kWp no Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético/Centro de Estudos de Petróleo (Nipe/Cepetro); 37 kWp na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC); 23 kWp na Escola de Extensão da Unicamp (Extecamp); e 4 kWp no Museu Exploratório de Ciências. “O subprojeto segue a ideia de aproveitar um mesmo investimento para obter vários ganhos, melhorando a infraestrutura do campus e também de pesquisa e ensino”, observa Pereira da Silva.
Luiz Carlos Pereira da Silva, professor da FEEC e coordenador do programa Campus Sustentável. “Também colocamos sistemas em solo, para que professores e estudantes tenham contato direto com essas tecnologias em aulas práticas
Este laboratório vivo permitirá, além da geração de energia solar, a avaliação do uso de diferentes módulos fotovoltaicos; estudos de solarimetria, modelagem de radiação solar, modelagem de módulos e metodologias de simulação energética e avaliação do desempenho dos sistemas; criação de um simulador computacional para a avaliação do desempenho de sistemas fotovoltaicos, tendo como laboratório de validação os sistemas de mini-geração implantados no campus; e desenvolvimento de um equipamento traçador de curvas IV (características de cada módulo) para testes de comissionamento de sistemas e usinas solares, sendo a pesquisa coordenada pelo professor Marcelo Villalva, da FEEC.
Estima-se que os seis pontos de geração solar fotovoltaica levem a uma economia de 2% no consumo de eletricidade, sendo que Luiz Carlos Pereira da Silva não deixa de considerar a possibilidade, mesmo que em longo prazo, de implantar painéis em todos os prédios do campus. “Fizemos um estudo constatando que, utilizando somente os telhados, haveria uma diminuição de até 50% da energia elétrica contratada – e temos ainda a opção de cobertura de estacionamentos. Um problema está nos telhados em final de vida útil, quando devem durar mais do que os 20 anos de um sistema fotovoltaico, evitando obras de manutenção que exijam a retirada dos equipamentos. Mas, como já temos muitos prédios reformados, nada nos impede de ir expandindo o sistema no correr dos próximos anos.”
De acordo com o professor da FEEC, o financiamento dos equipamentos para este subprojeto de geração de energia solar veio do fundo da CPFL reservado aos programas de Pesquisa & Desenvolvimento e de Eficiência Energética da Aneel. “Em 2016, a Agência lançou um edital específico para universidades, contemplando projetos focados na conservação e geração de energia dentro dos campi. Tivemos a sorte de já estarmos trabalhando neste tema, o que permitiu elaborar rapidamente um projeto amplo e bem ambicioso, ganhando apoio imediato da CPFL e a aprovação pela Aneel com uma nota excelente.”
Felipe Henrique Zaia, gerente de Eficiência Energética da CPFL, esclarece que o contrato de concessão obriga as concessionárias de energia a investir em projetos na área, como o Campus Sustentável. “Nosso programa de eficiência energética faz parte de uma política pública dentro do desenho do setor elétrico para que as empresas tenham como um de seus objetivos promover o uso racional de energia na sociedade e na economia brasileira. Nós seguimos este programa elaborado e fiscalizado pela Aneel, sendo o Campus Sustentável um ótimo exemplo de união da CPFL com a Unicamp, que é um cliente especial por seu componente de pesquisa e conhecimento para aumentar a sustentabilidade do setor.”
Modelo a ser replicado
Estão sendo investidos R$ 9,5 milhões nos oito subprojetos do programa, que foi iniciado em janeiro de 2018 para durar 36 meses, com a ambição de estabelecer um modelo de gestão e eficiência energética que possa ser replicado em outras instituições de ensino superior do Brasil e da América Latina. A expectativa é de alcançar uma economia em eletricidade de pelo menos R$ 1 milhão por ano – do gasto atual de R$ 25 milhões. “A dimensão da economia vai depender não apenas do que conseguirmos neste projeto, mas de sua continuidade aproveitando toda essa infraestrutura, num esforço contínuo de 10 ou 20 anos”, observa Pereira da Silva.
O coordenador do Campus Sustentável ressalta que a economia aguardada nos três anos do projeto deve resultar das ações integradas que incluem o monitoramento em tempo real do consumo em todos os prédios, já havendo 100 medidores instalados de um total de 300 previstos; a introdução de um ônibus elétrico no sistema circular; o retrofit (troca) na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) de 3.000 lâmpadas por led e de dezenas de aparelhos de ar-condicionado por outros mais modernos, além da instalação de sensores para gestão energética; a etiquetagem de edifícios com selo de eficiência energética pela FEC; a contratação de energia no mercado livre; e ações educativas levando o projeto aos principais eventos no campus.
Na opinião de Felipe Zaia, o Campus Sustentável é um projeto bem completo porque procura envolver todos os aspectos da eficiência energética, com ações voltadas à tecnologia – a exemplo de lâmpadas led em alguns prédios e a instalação dos 530 kWp de energia solar fotovoltaica – e também ações focando o comportamento dos usuários e a análise de dados. “Será criado um centro de monitoramento no campus para aumentar a capacidade da Unicamp na geração de dados e monitoramento do consumo de todas as unidades. Hoje, a administração tem o controle da conta geral de energia elétrica, e não individualizada, o que vai permitir que as próprias unidades também desenvolvam programas de redução e consumo consciente.”
Um grande diferencial do Campus Sustentável, na visão do gerente de Eficiência Energética da CPFL, é o legado que o projeto vai deixar para o campus. “Esse sistema de geração solar com painéis, por exemplo, vai gerar energia limpa para a Unicamp por pelo menos 20 anos, que é o tempo de vida útil dos equipamentos. Além, obviamente, do impacto financeiro que virá da economia na conta de energia. Os recursos para os painéis saíram do fundo do nosso programa de Eficiência Energética e a contrapartida da Universidade, nesse momento, é basicamente em homem-hora para a pesquisa definindo os melhores arranjos e locais de instalação.”
Maior região de energia solar do país
Felipe Zaia atenta que o Campus Sustentável, na verdade, é um componente de uma parceria bem maior entre CPFL e Unicamp, visto que uma série de projetos vêm sendo desenvolvidos no distrito de Barão Geraldo já há alguns anos. “O distrito e o campus se transformaram, efetivamente, em uma visão de futuro do setor elétrico. Esse laboratório vivo é fruto de vários projetos construídos em parceria, como o ponto de recarga de veículos elétricos na entrada da Universidade; a Usina Solar de Tanquinho, a primeira no estado de São Paulo voltada para esta tecnologia; a instalação de sistemas fotovoltaicos de pequeno porte em 231 residências e comércios. Estamos agora com 850 kWp no bairro e 530 kWp no campus, talvez seja a região com maior concentração de energia solar no país.”
Zaia revela que um novo grande projeto previsto para a região é o de armazenamento de energia, tendo a Unicamp como parceira para indicar a melhor localização e forma de introdução dos equipamentos. “É uma tecnologia nova, com baterias em basicamente três tamanhos: as residenciais, que se assemelham a um micro-ondas; outras voltadas à rede elétrica de média tensão, com a dimensão de um transformador de rua; e um sistema de grande porte, equivalente à metade de um contêiner, que deve ficar na subestação gerenciada pela CPFL e a Unicamp na área de Ciências Médicas. A bateria pode funcionar como um gerador em caso de emergência, mas sua função é de diminuir as oscilações na qualidade da energia, ou mesmo de eliminar riscos de acidente e queima de equipamentos.”
Reitor destaca espaço para pesquisa
A geração de energia solar já é realidade na Unicamp. Na manhã de ontem (11) foi dado início à primeira fase do projeto Campus Sustentável com o acionamento da Usina Fotovoltaica pelo reitor Marcelo Knobel. Na etapa inicial, também serão realizadas a troca de três mil lâmpadas e a instalação de aparelhos de ar condicionado em vários locais do campus (veja, acima, texto completo). A solenidade realizada no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp, local em que está instalada a maior quantidade de painéis solares, contou com a participação da coordenadora-geral da Universidade, Teresa Dib Zambon Atvars, do presidente da CPFL Paulista, Carlos Zamboni Neto, e do diretor de Estratégia e Inovação da CPFL, Rafael Lazzaretti.
Para o reitor, a importância do programa Campus Sustentável reside, em especial, no espaço para os alunos de graduação e pós desenvolverem pesquisa aplicada. “O espaço dá lugar a teses com alunos desenvolvendo trabalhos acadêmicos interessantes que vão beneficiar não só suas carreiras, como também a CPFL terá o retorno de pesquisa aplicada”. Já a coordenadora-geral, Teresa Atvars destacou os aspectos de sustentabilidade e economia de energia e a relevância do ambiente de formação de recursos humanos para o futuro.
Outro ponto enfatizado pelo presidente da CPFL Paulista foi o alcance da iniciativa com o investimento realizado pela empresa. “É um projeto que está sendo doado para toda a comunidade de Campinas, seus alunos e, com certeza, a Unicamp será visitada por outros Estados e outros municípios para conhecerem o projeto que está sendo desenvolvido”, sinaliza.
As próximas ações do programa Campus Sustentável será a instalação de medidores inteligentes para monitoramento e diagnóstico em tempo real em determinados prédios e a circulação de um veículo elétrico que fará o trajeto dos ônibus circulares internos dentro do campus.