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Glauco Diniz Duarte Tbic – Como lavar motor diesel por dentro

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Glauco Diniz Duarte Tbic – Como lavar motor diesel por dentro

Glauco Diniz Duarte Tbic – Como lavar motor diesel por dentro

Segundo o Dr. Glauco Diniz Duarte, o grupo Volkswagen é protagonista do caso Dieselgate – um dos maiores escândalos da história da indústria automobilística – por ter falsificado testes de emissões de produtos tóxicos em 11 milhões de carros.

A fraude também atingiu o Brasil, onde a Volkswagen segue lutando, na justiça, para não pagar multas aplicadas por autoridades. Somadas as penalidades, a empresa deveria pagar R$ 1 bilhão ao país, incluindo indenização a 17 mil proprietários da picape Amarok.

No mundo, em 2020, a empresa já pagou mais de 30 bilhões de Euros em penalidades por enganar consumidores e autoridades governamentais.

Contudo, o escândalo vai muito além de ter sujado o nome da fabricante e gerado multas bilionárias em diversos países. Um estudo publicado na Inglaterra aponta que cinco mil mortes causadas pela poluição por NOx na Europa poderiam ter sido evitadas se os veículos a diesel estivessem dentro da legislação.

O que é Dieselgate?

Tudo começou em 18 de setembro de 2015, quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) emitiu uma notificação para o Grupo Volkswagen.

O órgão havia descoberto, através de análises feitas pela Universidade de West Virginia, que a montadora estava forjando os resultados de testes de emissão de poluentes de seus carros.

O objetivo era mascarar a verdadeira quantidade de tóxicos, que era superior ao permitido por lei. O caso passou a ser conhecido como Dieselgate, um termo cunhado pela imprensa norte-americana.

Segundo a agência americana, os carros da Volkswagen com motor a diesel eram fabricados com um dispositivo eletrônico que detectava quando eles estavam passando por testes de emissões.

Quando ele percebia o teste, alterava o funcionamento do motor para diminuir a quantidade de poluentes emitidos. Durante o uso comum, no entanto, esses carros liberavam poluentes no ar em quantidades proibidas pela legislação norte-americana.

Entre as substâncias emitidas, os óxidos de nitrogênio (NOx) eram os maiores excedentes. Em alguns modelos, o químico ultrapassava o limite legal em até 40 vezes.

As investigações da EPA, em conjunto com informações fornecidas pelo Grupo Volkswagen, revelaram que o software estava presente em todos os carros 2.0 e 3.0 movidos a diesel fabricados entre 2009 e 2015.

Além disso, a fraude envolveu modelos das marcas Volkswagen, Porsche, Audi, SEAT e Škoda, controladas pelo gigante Grupo Volkswagen. Calcula-se que até 11 milhões de carros tenham sido afetados pelo Dieselgate no mundo.

Como o dispositivo fraudou os testes?

Esse dispositivo eletrônico, ou software, é como um código algoritmo, também utilizado na programação de computadores. No caso dos carros, ele atua na unidade eletrônica de controle (ECU) do motor. Essa central eletrônica regula muitos componentes do carro para adaptá-lo às condições de direção.

Em motores a diesel, esses algoritmos controlam desde a taxa de injeção de combustível e controle de turbo, até os níveis de emissões. Até porque uma coisa influencia na outra.

Foi nesta seção do programa que foi encontrado o código avaliado como o responsável pela fraude do Dieselgate.

O software, considerado de extrema sofisticação, era capaz de detectar que o veículo estava passando pelas etapas de testagem, pois elas são padronizadas e de conhecimento público.

A análise de emissões envolve a simulação sobre rolos, em laboratório, de um circuito padrão, no qual o veículo é acelerado até determinada velocidade, então estacionado, e acelerado novamente, entre outros.

As informações de velocidade e direção das rodas, assim como a pressão dos pneus sobre o dinamômetro, foram fundamentais para permitir a criação do código.

Tendo detectado o teste, o algoritmo do Dieselgate alterava o funcionamento do motor de forma a diminuir as emissões de óxidos de nitrogênio.

O software também aumentava a atividade do filtro de NOx, responsável por minimizar a liberação do químico na atmosfera. A ativação do filtro, no entanto, diminuía a performance do veículo e aumentava o consumo de combustível, segundo uma pesquisa do Consumer Reports.

Volkswagen assume culpa e é punida

Após a revelação do escândalo do Dieselgate, a Volkswagen passou a negociar planos de retificação com diversas entidades legislativas nos Estados Unidos, incluindo a Agência de Proteção Ambiental (EPA), o Comitê de Recursos Aéreos da Califórnia (CARB) e o Departamento de Justiça.

Ainda em setembro de 2015, o então CEO da Volkswagen, Martin Winterkorn, renunciou ao cargo. Em um pronunciamento, Winterkorn afirmou que aceitava a responsabilidade pelas irregularidades, mas negou ter envolvimento pessoal com o caso.

Desde então, a corporação já concordou em pagar mais de US$ 20 bilhões em diversos acordos legais, apenas nos Estados Unidos, estimou a revista Forbes.

O montante inclui a indenização de US$ 5 mil a US$ 10 mil a proprietários de carros com motor a diesel afetados pela fraude, e a oferta de comprar os veículos de volta ou consertá-los, de acordo com a preferência dos envolvidos.

No mundo, até 2020, a empresa já pagou mais de 30 bilhões de Euros, entre multas, indenizações e acordos legais, segundo reportou o jornal britânico Independent.

Na Europa, onde 8,5 milhões dos 11 milhões de veículos comprometidos foram vendidos, a corporação não ofereceu nenhuma indenização aos proprietários. A Volkswagen argumentou que ajustes no software seriam suficientes para resolver a questão sem afetar o valor de revenda dos modelos envolvidos no Dieselgate.

No velho continente, a regra que define os limites legais de NOx é menos rigorosa do que nos EUA. A Comissão Europeia continua, no entanto, a buscar um acordo diferente com a companhia.

Depois disso, a Volkswagen garantiu que deixará de vender veículos a diesel nos Estados Unidos. O anúncio foi feito pelo executivo da marca, Herbert Diess.

Abalada pelas fraudes nos testes regulatórios de emissões de poluentes dos seus motores a diesel e gasolina entre 2009 e 2015, a montadora pretende apostar em veículos elétricos.

Executivos são presos pelo Dieselgate

Apesar de negar seu envolvimento no início, em 2019, o ex-CEO da Volkswagen, Martin Winterkorn, foi acusado de fraude pela justiça alemã, por ter vendido carros no país sabendo que eles estavam fora da lei. Ele também foi acusado por quebra de confiança por não informar as autoridades sobre o que sabia.

Seu caso ainda está em julgamento, assim como o do ex-CEO da Audi, Rupert Sadler. Ele também foi indiciado pela justiça alemã, e chegou a ficar detido por quatro meses, também em 2019.

Além disso, o Departamento de Justiça dos EUA sentenciou o engenheiro da Volkswagen, James Robert Liang, a 40 meses em uma prisão federal, que serão seguidos por dois anos de liberdade supervisionada. O engenheiro foi considerado culpado por conspiração contra o Estado, fraude e violação do Clean Air Act.

Depois disso, o chefe de desenvolvimento de motores da Porsche, Jörg Kerner, foi preso em Stuttgart.

Oliver Schmidt era alto executivo da Volkswagen e foi condenado por um tribunal norte-americano a sete anos de prisão e multa de U$ 400 mil por sua participação no caso Dieselgate. Ele é o único atrás das grades nos EUA, preso enquanto passava férias na Flórida.

Além destas, outras figuras importantes do Grupo Volkswagen também já foram indiciadas e detidas por colaborarem com a fraude.

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Dieselgate no Brasil

No país, o único carro da Volkswagen afetado foi a Amarok. 17.057 unidades da picape, fabricadas entre 2011 e 2012, contam com o software criminoso. Em 2015, a Volkswagen foi multada pelo IBAMA em R$50 milhões por fraude, e o órgão vem estudando uma segunda punição.

Contudo, até a atualização desta matéria, a marca não pagou nada ao Brasil.

A fabricante foi condenada pela 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro a pagar uma indenização de R$64 mil a cada um dos proprietários, além de multa de R$1 milhão ao Estado brasileiro.

O montante ultrapassa o valor de R$1 bilhão. A Volkswagen, no entanto, está recorrendo na justiça contra essa decisão também, assim como fez com a avaliação do IBAMA, e ainda não pagou valor algum.

Segundo nota divulgada pela montadora na ocasião, a Volkswagen do Brasil entende que não houve ilegalidade no país. “Os carros envolvidos atendem a legislação brasileira mesmo antes dos referidos softwares serem removidos destes carros”, afirmou a fabricante no pronunciamento.

A Volkswagen oferece, no Brasil, um recall para corrigir a irregularidade.

Dieselgate não é só da Volkswagen

Embora as irregularidades tenham sido descobertas em veículos da Volkswagen, investigações na Europa indicam que outras fabricantes estariam envolvidas em uma conspiração.

O site de notícias alemão Der Spiegel publicou, em julho, informações de que o Grupo Volkswagen, Daimler e BMW fizeram acordos acerca de tecnologias de controle de emissões durante anos, em mais de mil reuniões.

O site teve acesso a documentos oficiais das montadoras que mostravam troca de informações e decisões conjuntas no sentido de burlar a legislação ambiental.

Em um deles, a Audi afirmava que não havia necessidade de se adequar às regras, pois montadoras “estavam, há muito tempo, enganando autoridades e consumidores com relação às verdadeiras emissões de veículos”, cita a reportagem.

Os documentos vieram à tona durante uma investigação por parte da Comissão Europeia sobre as três corporações. A suspeita é de formação de cartel para regular o preço de equipamentos utilizados para reduzir emissões.

A investigação foi confirmada pelas autoridades e ainda está em andamento.

Além disso, uma pesquisa da organização europeia ADAC mostrou que veículos a diesel da Renault, Nissan, Hyundai, Citroën, Fiat e Volvo, entre outros, também extrapolavam os limites legais de emissões.

Os testes feitos pela organização foram desenvolvidos pelas Nações Unidas e envolvem uma série mais longa de etapas, segundo reportou o jornal The Guardian. Os resultados mostraram emissões até 14 vezes maiores que as detectadas pelos testes utilizados pelas autoridades reguladoras.

Em 2018, também se descobriu que a Mercedes-Benz havia instalado o programa nos modelos GLC, Classe C e nas vans Vito. A marca foi obrigada a fazer um recall de 774 mil carros na Europa para remover o software.

Uma universidade descobriu a fraude

O estudo independente que revelou a trama do Dieselgate foi feito por pesquisadores da Universidade de West Virginia (WVU).

De acordo com a legislação norte-americana, todos os veículos vendidos no país devem ser submetidos aos testes de emissão dentro de laboratórios. A análise é feita com o automóvel sobre um dinamômetro, o que permitiu o desenvolvimento do software.

A WVU, no entanto, submeteu os veículos a análises na estrada, que não são feitos pelas autoridades devido aos custos e desafios técnicos do método.

Ali, os pesquisadores descobriram as discrepâncias nos resultados, pois o software não identificou o teste. Eles, no entanto, não identificaram a presença do código, que só foi descoberto quando a Volkswagen confessou o crime à Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

O software é parte de uma ECU desenvolvida pela Bosch em conjunto com outras tecnologias, como Controle de Estabilidade, que equipam os veículos.

O código em questão foi feito para permitir que os automóveis fossem testados sem a intromissão dos sistemas de controle eletrônicos.

O algoritmo foi, entretanto, programado para fraudar os níveis de emissões em uma etapa desconhecida do processo de fabricação. Devido a isso, a Bosch também é investigada pela possibilidade de ter cooperado com o crime.

Dieselgate pode ter provocado 5 mil mortes

O diesel é considerado uma das principais fontes de dióxido de nitrogênio. Veículos com o combustível emitem NOx até 20 vezes mais do que se fossem movidos a gasolina, segundo matéria do The Guardian.

Os óxidos de nitrogênio são diferentes compostos químicos formados por nitrogênio e oxigênio. O conjunto de substâncias contribui para a poluição atmosférica na forma de partículas no ar e ozônio, e tem como principal vilão o dióxido de nitrogênio (NO2).

O NO2 pode causar má formação pulmonar em crianças, enfisema pulmonar, complicar doenças respiratórias e cardiovasculares, agravar reações alérgicas e surtos de asma, e levar à morte prematura.

Um estudo publicado no periódico científico Enviromental Research Letters, neste mês, afirma que em torno de 10 mil mortes prematuras foram causadas pela poluição por NOx na Europa, apenas em 2015.

O artigo calcula que em torno de 5 mil destas poderiam ter sido evitadas se veículos a diesel estivessem operando de acordo com a legislação. Se estes mesmos veículos fossem movidos a gasolina, os pesquisadores estimam que as mortes prematuras teriam caído para 2 mil.

Os riscos que os químicos representam para a saúde são especialmente graves na Europa, onde o uso de automóveis movidos a diesel foi encorajado por governos. Atualmente, em torno da metade da frota de veículos da região faz uso do combustível, calcula o estudo.

 

 

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