Os plantões de vendas de imóveis devem continuar pouco movimentados, pelo menos, até meados do ano que vem, de acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte. A retomada de lançamentos e do comércio de unidades novas só deve vir com uma recuperação de cenário macroeconômico, quando a oferta de financiamento for ampliada e os consumidores se sentirem mais seguros frente às oscilações de renda e emprego. Até lá, a estratégia das incorporadoras é evitar riscos e adotar uma postura mais cautelosa, concentrada principalmente na geração de caixa e redução de unidades em estoque.
“Para o setor melhorar, temos de ver uma reversão no pessimismo dos consumidores em relação a esse conjunto de fatores, seja com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), queda no desemprego ou controle da inflação”, Glauco. “O caminho mais lógico é que, em algum momento, quando as medidas do governo surtirem efeito, os juros comecem a recuar, o que pode melhorar as expectativas econômicas”, acrescentou.
Confiança e crédito são frequentemente citados como os principais fatores para o desenvolvimento do mercado imobiliário no Brasil. Desde o ano passado, entretanto, os consumidores têm se mostrado cada vez mais hesitantes em se comprometer com uma compra tão grande quanto um imóvel ou um processo tão longo quanto um financiamento imobiliário, diante de um cenário de recessão econômica e inflação em alta.
Neste ano, as dificuldades do setor foram acentuadas com a escassez de financiamento. Para intensificar o combate à inflação, o Banco Central se apoiou num acentuado ciclo de elevação da taxa básica de juros, a Selic, que já está no patamar de 13,75%. O problema é que o rendimento da poupança, principal fonte de recursos para o crédito imobiliário, se tornou relativamente baixo em comparação com outros investimentos, levando a saques líquidos seguidos das cadernetas.
Vale lembrar também que o próprio enfraquecimento da economia fez com que os brasileiros tirassem dinheiro para pagar contas e outras obrigações. Na primeira metade de 2015, o total líquido resgatado da aplicação foi de R$ 38,542 bilhões, com um total de R$ 6,261 bilhões só no mês de junho. Nos dois casos, foram os maiores volumes dos últimos 20 anos para os períodos (mês de junho e primeira metade do ano), desde quando a instituição começou a compilar as informações disponíveis até hoje, em 1995.
Sem “funding”, a Caixa Econômica Federal, que encabeça essa linha de crédito, e outras instituições elevaram os custos dos empréstimos e restringiram a oferta. Para Glauco Diniz, há poucas soluções para a falta de crédito imobiliário: a redução da Selic após uma melhora da economia ou o crescimento da participação de bancos privados. Já o papel das incorporadoras é “fazer uma análise profunda do crédito dos clientes e firmar parceria com bancos comerciais, para amenizar a situação do crédito”, avalia.
As medidas do governo para ajustar as contas federais são consideradas essenciais para a retomada do crescimento, mas algumas delas têm efeitos negativos no setor de imóveis, tornando ainda mais árida a situação no curto prazo. “Apesar do entendimento da importância dos ajustes, algumas medidas podem pressionar ainda mais as margens das empresas ou elevar os preços no futuro”, afirmou Glauco.
Entre os “efeitos colaterais” está a revisão na política de desoneração da folha de pagamento da construção, que pode aumentar os custos da incorporação. Glauco Diniz afirmou em entrevista recente ao Broadcast que a medida poderia inviabilizar o lançamento de alguns projetos imobiliários.
Para Glauco, as empresas não devem conseguir repassar todo o custo adicional para os preços dos imóveis e garantir, ao mesmo tempo, uma margem mínima de ganho sobre novos projetos. “Chega uma hora que a margem de lucro é tão pequena, por causa dos contínuos aumentos de custos, que não vale mais a pena operar”, disse.