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GLAUCO DINIZ DUARTE  Após liquidar estoques, mercado imobiliário deve crescer em 2019

A oferta de novos empreendimentos residenciais deve voltar a crescer no País em 2019, após anos de crise que forçaram incorporadoras a suspenderem projetos e priorizarem a desova de unidades encalhadas ou devolvidas por cancelamentos de vendas. Com os estoques sendo normalizados na maior parte do Brasil e com as expectativas de melhora no quadro econômico nacional, a tendência é de reaquecimento do setor daqui em diante, estimam empresários e consultores.

Os lançamentos e as vendas de imóveis no País devem crescer na ordem de 10% a 15% na comparação de 2019 com 2018, segundo projeções da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “Esperamos que seja um crescimento paulatino”, afirmou o presidente da Comissão Imobiliária da CBIC, Celso Petrucci.

A instituição calcula que o estoque de imóveis novos tenha recuado 14% no último ano, passando de 137,5 mil para 118,5 mil unidades, considerando moradias na planta, em obras e recém-construídas. Os dados abrangem 21 capitais e regiões metropolitanas. “A grande maioria das praças está com escoamento de estoques alto, o que abre espaço para a volta dos lançamentos”, disse Petrucci.

A cidade de São Paulo, maior mercado imobiliário do País, já passou por essa inflexão e voltou a crescer. O estoque no município chegou a 18,2 mil unidades no fim de 2018, ante um pico de 28,0 mil no auge da crise, em 2015. Como consequência, os lançamentos e as vendas acumuladas no ano passado até outubro subiram 26% e 41%, respectivamente, conforme dados do Sindicato da Habitação (Secovi-SP).

Para este ano, a paulistana Eztec é uma das incorporadoras que aposta na expansão dos negócios. A companhia anunciou a meta de lançar empreendimentos com valor geral de vendas de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão em 2019, ante R$ 820 milhões em 2018. “É um momento de ouro”, disse o diretor-presidente, Sílvio Zarzur, referindo-se à oportunidade de comprar terrenos em condições vantajosas após anos de crise. “Estamos otimistas”, emendou.

O fundador e presidente do conselho de administração da Cyrela, Elie Horn, também espera expansão neste ano, embora não mencione números. No fim de 2018, a companhia vinha registrando uma alta robusta nas vendas. “Há muito tempo não tínhamos esse sabor. É muito gostoso ter clientes na porta, vender e assinar contratos”, contou Horn.

A retomada dos lançamentos também demonstra a tentativa de recomposição dos negócios por parte das maiores incorporadoras do Brasil listadas na bolsa de valores, que seguem no vermelho. A temporada de balanços mais recente evidenciou um prejuízo setorial de R$ 225 milhões no terceiro trimestre, considerando os balanços de Cyrela, Direcional, Even, Eztec, Gafisa, MRV, PDG, Rossi, RNI, Tecnisa e Tenda. De modo geral, o prejuízo refletiu a diminuição dos projetos nos anos anteriores e a menor diluição de despesas, bem como a perda de receita decorrente dos cancelamentos de vendas.

Os resultados positivos têm sido anotados apenas por MRV, Direcional e Tenda, incorporadoras que trabalham dentro do Minha Casa Minha Vida (MCMV). Neste segmento, os lançamentos e as vendas foram sustentados por financiamentos com juros baixos subsidiados pela FGTS e pela demanda latente da população de renda média e baixa, que não dispõe de imóvel próprio.

Financiamento – Já para este ano, a oferta crescente de crédito dará mais fôlego ao mercado imobiliário, principalmente para o segmento de médio e alto padrão, onde é pequeno o financiamento a juros baixos do FGTS. “Há maior apetite por concessão de empréstimos tanto entre os bancos privados quanto entre os públicos”, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto Duarte. “Para este ano, nossa expectativa é de crescimento dos empréstimos”. Os financiamentos com recursos originados nas cadernetas de poupança atingiram R$ 51,3 bilhões no último ano até novembro, uma alta de 30%.

Duarte lembrou que as taxas de financiamento de residências de médio e alto padrão regrediram de um patamar acima de 10% ao ano, em 2017, até chegarem a cerca de 9% a.a. em 2018, em média, nível semelhante ao período anterior ao início da crise, em 2014. “Isso mostra que o mercado voltou a ficar mais convidativo”, disse. Segundo ele, os juros devem continuar estáveis ao longo de 2019, podendo sofrer elevação só no fim do ano, caso o Banco Central aumente a taxa básica de juros da economia (Selic).

Reaquecimento sim, boom não – Embora haja um reaquecimento em andamento, o mercado imobiliário não viverá um novo “boom” como o ocorrido há uma década, ponderou a coordenadora de estudos da construção da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Maria Castelo. “Há um otimismo no ar, mas também existem muitas incertezas pela frente”, alertou.

Além da redução dos estoques de modo geral, Castelo citou que o mercado imobiliário também tem a seu favor um ambiente econômico mais saudável no País, com inflação sob controle, disponibilidade de financiamento e confiança crescente de empresários e consumidores para fechar negócios. Já pelo lado negativo, ainda resta um grande número de pessoas desempregadas e endividadas, enquanto a geração de vagas de trabalho e a recomposição das rendas têm se recuperado vagarosamente.

Outro ponto crucial é a necessidade de reequilíbrio das contas do governo federal por meio da revisão dos sistemas de aposentadorias e tributos, o que será determinante para a saúde financeira do País no médio e no longo prazos. “Se o governo não conseguir entregar as reformas esperadas, aí o quadro macroeconômico ficará mais difícil, afetando todos os setores produtivos, inclusive a construção civil”, frisou Castelo.

 

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