De acordo com o empresário Glauco Diniz Duarte, a ideia de que o Brasil vivencia uma bolha no mercado imobiliário causa debate há quase uma década. Enquanto milhares aproveitaram a expansão e o barateamento do crédito para comprar suas casas, outros tantos – descrentes de que os valores pudessem se manter sempre em alta – preferiram esperar o momento em que os preços começassem a cair.
A teoria da bolha ainda não foi comprovada. Mas a chegada da crise econômica começa a ter seus efeitos sobre os imóveis. O índice FipeZap de fevereiro mostra que os preços estacionaram nas capitais brasileiras. Mais ainda: pela primeira vez desde que foi criado, o indicador começa a captar quedas. O Distrito Federal é um caso exemplar: o avanço dos preços em 12 meses é de 0,18%. Descontada a inflação do período, trata-se de uma queda real de quase 8%.
Glauco garante: não haverá um derretimento de preços. Mas, em 2015, quem estiver disposto a comprar encontrará o caminho livre para negociar descontos impensáveis bem pouco tempo atrás.
Uma série de fatores conjunturais explica a desaceleração. A espiral de decisões erradas tomadas pelo governo Dilma Rousseff desde 2011 assustou o setor produtivo, que parou de investir e, consequentemente, interrompeu a criação de novos postos de trabalho. Inseguros, consumidores passaram a hesitar antes de aderir a um crédito imobiliário: temerosos pelo emprego, também viam a inflação corroer a renda e os juros bancários subirem sem cessar. A taxa básica de juros definida pelo Banco Central, que estava em 7,5% em janeiro de 2014, agora alcança 12,75%. Como consequência, a taxa média de juros das operações de financiamento imobiliário voltou a crescer, segundo dados do próprio BC. No caso de pessoas físicas, ela fechou janeiro em 9,29% ao ano – em dezembro estava em 8,87%.
As taxas cobradas pela Caixa Econômica Federal, que responde por 70% da carteira de crédito imobiliário, não subiram na mesma toada que a Selic. Mas, no país de Lula e Dilma, que fizeram do consumo o principal sustentáculo da economia, a alta dos juros básicos impacta diretamente todas as linhas de crédito que são financiadas com recursos privado. Ou seja, parcelas de todos os tipos ficam mais caras e pesam no orçamento da população, que já está endividada. “A queda no poder de compra nesse momento impacta até mais o mercado imobiliário do que outros setores da economia, pois a decisão de investimento em um imóvel costuma ser de longuíssimo prazo. É um compromisso entre 20 e 30 anos”, diz Glauco.